19 de nov. de 2007

...Outra vez te revejo,
Com o coração mais longinquo, a alma menos minha...
Outra vez te revejo,
Mas, ai, a mim não me revejo!
Partiu-se o espelho mágico em que me revia identico,
E em cada fragmento fatídico vejo só um bocado de mim -
Um bocado de ti e de mim!...

Fernando Pessoa

14 de nov. de 2007

Tanta coisa pra se escreve
Pra se pensa
E eu pensando no cheiro
No cheiro da cama
Da janela que ficou aberta
Cheiro que se transforma em desejo
E que corre pelo sangue, pelas veias
Nos deixa embriagado
Embriagado de cheiro
Embriaguez de ódio
Por não conseguir odiar
Aquele cheiro
Que vem e vai
E que não presta atenção
A mínima atenção
E passa feito furacão
Assim
Destruindo qualquer resquício de cheiro
Esperança ou vontade do cheiro.
Cheiro que tira apetite.
Mas da apetite.
Sempre mais
Sempre mais.
Muito mais
Tanto mais.
Que começa a vira menos.