30 de mai. de 2010

circo.

Eu poderia te jogar janela abaixo nesse momento. Nesse em que o teu cigarro parece ser a forma mais pura e única de prazer. Eu poderia segurar os teus braços e pernas com golpes de luta que eu penso que luto e dominaria tudo que tu ainda guarda em ti. Tudo que sobra de ti.

As poucas marcas que tu esqueceu de me deixar ainda se grudam no teu peito.

Só me deixa parar de sangrar...


23 de mai. de 2010

qualquer coincidência é mera coincidência.

Se conheceram no cursinho e matavam aula pra jogar poker. Apostavam maços de cigarro, alguns cds raros e vez que outra uns beijos tímidos na porta do banheiro. Ele costumava escrever sobre como ela matava seu coração aos poucos. Tinha o habito de beber sozinho ou com uma dupla de amigos. Raramente saia do apartamento. Voltava com uma garrafa de vinho (quando ela ia) e uns pacotes de miojo. Tentou terapia mas só deu certo quando ele aceitou o amor.
(...)
1m76. órfão de pai depois que a mãe morreu em um acidente trágico. Virou ator pra descarregar a raiva e a carência. Também pra tocar a coxa de algumas meninas nos alongamentos dos ensaios. Desde a última namorada andava rolando impotentemente por camas cheirando a incenso de rosas. Só a dela que cheirava a limão siciliano. Depois de poucos anos, casou de forma instantânea com uma professora de teatro que já espera sua primeira filha. A garotinha vai ter o nome dela.
(...)
Canhoto, segurava o violão com a mão esquerda. Sorria maliciosamente, pelo canto da boca, ao entoar os primeiros acordes de o último romance. Carregava um sotaque nômade vindo da mãe mineira e do pai gaúcho. Viciou-se em tapioca depois de dois anos morando na Bahia. Falava de cinema e de literatura. Tocava todos os instrumentos existentes. A deixou por uma menina mais baixa. E que gostava de Godard.
(...)
Tinha os olhos mais verdes da rua. Ela pode notar assim que entraram os primeiros raios de sol no quarto úmido. Ele falava manso e a chamava de flor. Gastava a bolsa de pesquisa em cachaça barata, geralmente de cravo e canela – a canela limpa a garganta - repetia sempre. Costumava engavetar dezenas de projetos capengas (pra salvar o meio ambiente) que não eram realizados por excesso de noitadas. Um dia jogou tudo fora. Fazia dois anos que mãe não mexia ali.
(...)
Gostava de música brega e andava de bicicleta. Variava a barba toda a semana. Só o bigode que permanecia sempre intacto. Desistiu de chamá-la de linda desde que ela cobrou uma dúzia de carinhos sinceros. Matava a larica com massa aos quatro queijos. Vez que outra misturava brócolis refogado ou sardinha em conserva. Jurava que não fazia questão de dormir com o travesseiro mais alto. Agradeceu a sabe se lá que deus quando ela conseguiu sumir da sua vida. Diminuiria o chocolate.
(...)
Tinha dificuldade de usar calça e prender os cabelos. Assumira o papel de leoa mesmo não reinando nada. Sofria de alergia ao frio e passava dias ouvindo a mesma música. Era viciada em chocolate. Especialmente bombom de morango. Buscou ajuda em centro de umbanda, dançou salsa e tentou fazer as unhas toda à semana. Todo domingo sentia falta de um cafuné. daquele cafuné.

Qual cafuné?

17 de abr. de 2010

semelodia.

de tanto bater meu coração parou.

7 de abr. de 2010

dose de caio f.

Então me vens e me chega e me invades e me tomas e me pedes e me perdes e te derramas sobre mim com teus olhos sempre fugitivos e abres a boca para libertar novas histórias e outra vez me completo assim, sem urgências, e me concentro inteiro nas coisas que me contas, e assim calado, e assim submisso, te mastigo dentro de mim enquanto me apunhalas com lenta delicadeza, deixando claro em cada promessa que jamais será cumprida, que nada devo esperar além dessa máscara colorida, que me queres assim porque assim que és…

26 de mar. de 2010

me gustas tu.

teu cheiro.
impregnando.
meu coração.

24 de mar. de 2010

no te va gustar.

Tu me disse uma vez que me faria uma serenata. Mas disse também que não era pra eu esperar por ela. Eu esperei. E ela não veio. Assim como não vieram milhares de outras promessas que por vezes fazíamos com os olhos, sob a penumbra de velas, ao som de hendrix. No teu quarto. Tão perto. É incrível como agora ele parece distante. Nunca mais nos cruzamos pelas calçadas que tantas vezes dançávamos embriagados por um sentimento desconhecido. Tanto em mim quanto em ti. Eu sei que tu tentou. Ao maximo. Que tu, por varias vezes, abandonou teus vícios mais sujos. Por mim. E um pouco por ti também. Mas agora parece que nada disso vale mais. Não consigo lembrar nem da tua voz direito. Tu lembra do meu gemido? Tu lembra da minha cara de felicidade quando te via de longe. Cara, que merda isso de simplesmente sumir. De morrer pro outro. Mas pensando bem, a gente nasce pra outro alguém. E depois morre de novo. E o ciclo continua como esses teus vícios que eu sei que ainda te assombram. Sei lá. Eu só não tava conseguindo dormir e de repente te senti próximo. Deve ter sido engano do meu coração. Ele já bate lento por outros rostos. Que hoje em dia me causam mais vontade que o teu. E se quer saber, eu sempre achei esse negocio de serenata meio brega.

23 de mar. de 2010

...

Te ver não é mais tão bacana quanto a semana passada.

16 de mar. de 2010

rapte-me.

meu coração é como uma montanha russa desgovernada.
a qualquer momento ele sai do trilho
e explode.

15 de mar. de 2010

do rabanete em conserva. e ah, de alguns baseados.

Cheguei em casa com frio. A noite parecia chamar atenção das minissaias, que ainda despreocupadas giravam em pernas arriscadas.
Dentro da geladeira um pote de rabanetes em conserva me salta os olhos. O formato de um deles me lembra um coração. Por instantes penso na afirmação de uns dias atrás. Com a boca cheia soltei um desbocado: Não acredito no amor.
Mas hoje, olhando pro rabanete e o vendo despedaçado por um garfo de cabo verde me dei conta que não só acredito no amor, como também vivo dele.
Cara, nada supera o amor. Sentir o peito formigar depois de uma ânsia de vomito de longos cinco segundos. Nada. E é por isso que eu amo sempre. Ou pelo menos tento amar. O tempo, com eu já devo ter dito alguma vez aqui, é totalmente irrelevante.
É assim. Aquela história do trem que vem de surpresa e nos pega desprevenidos na estação. Tentamos argumentar, lutar, mas nada segura. E no final das contas tudo acaba indo pro inferno e a gente pula no trem. E só se da conta de que foi quando o amor acaba.
Mas enquanto ele ainda ensaia e apita de longe, a gente separa o rabanete pra que ele realmente se transforme em coração.

18 de fev. de 2010

Deu as férias.

O quarto. não, não. Esse não é meu. O apartamento muito menos. Talvez nem mesmo essas palavras ainda permaneçam em mim. Acho que depois de sentidas elas conseguem uma espécie de força sobrenatural e simplesmente escapam. Por entre os dedos me escorre essa euforia meio drogada que me segue tem uns dias. O coração varrido. Limpo e esfregado de cabo a rabo. Os demônios? Todos eles foram dopados e agora dormem estirados em terraços, pontas de catedrais e filmes de terror. Me deixaram dormir por um tempo. Se bem que é agora que me sinto acordada. Desperta soaria melhor mesmo não sendo totalmente verdade. Sinto me como abrindo os olhos. A coluna ficando ereta. Vejo os meus peitos mais arredondados no sutien que não foi tirado a tempo. Me dou conta que realmente o quarto não me é conhecido. Resolvo levantar, abrir as janelas e deixar entrar o ar desse não lugar que tem habitado meu pensamento. Já é hora de buscar os demônios.

6 de jan. de 2010

é da chuva que não para.

Chove agora. As coisas não estão no lugar.
E isso é claro pra mim.
Talvez seja isso que me deixe mais triste.
Não é o fato de a minha boca estar longe da tua.
Mas sim, por mais uma vez, eu ter de abaixar a cabeça pro amor.
Eu sinto como se eu estendesse os braços e dissesse:
Me rendo!
Leva tudo. Meu coração, meu ego, tuas marcas no meu peito.
Vai! Leva!
Não quero as nossas fotos nem esse cheiro do teu sexo me rondando.
Queria-te inteiramente como éramos.
Tira essa tua personalidade suja daqui.
Essa que me ameaça e me descuida.
O mais incrível é como tu consegue encostar a faca no meu pescoço e despertar os sentimentos mais ambíguos.
Alguém já se sentiu ambíguo?
Dividido?
bem e mal.
rancor e carinho.
amor e ódio.
Se bem que amor e ódio entram na mesma barca.
O oposto do amor é o não sentir.
É o afastar. O esquecer.
Acho que taí o meu medo.
Que tu me esqueça.
A cor da minha calcinha predileta. O arrepio do meu beijo na tua orelha.
O meu nome.
Tu já pensou se tu esquece meu nome?
Acho que eu preferiria esquecer antes.
Eu queria abduzir a tua presença do meu mundo.
Mas agora parece que meu ódio ta na mesma linha tênue do meu amor.
E talvez eu só quisesse o teu abraço molhado da chuva.
Mas isso tu nunca faria.
É por isso que termino esse texto aqui.
E não aí.


3 de jan. de 2010

na (vida) da de eu.

Estar junto e não estar. Seguir o ritmo da respiração do outro lado da lua. Lembrar do riso do riso do riso. Sentir o gosto da lágrima. Engolir e vomitar o soluço do choro. Amar o que não se tem. Ou o que se tem em pensamento. Pensar em ti é fantasiar tudo o que se podia ter. Engraçado é aceitar a escolha de se estar distante. Diria que é a tua fraqueza. O medo do desconhecido, de enfrentar as próprias loucuras espelhadas no meu olhar. Sempre penso em ti assim, como um objeto livre de amarras, amarrado no egoísmo de outras histórias. Meu amor errante, distante. Que permanecemos assim, fingindo um ponto final.